Invasão por hackers é risco para carros conectados -

Invasão por hackers é risco para carros conectados

Multimídia pode ser porta de entrada para acesso remoto a sistemas críticos na condução e segurança do veículo

Claudio Milan claudio@novomeio.com.br

Andy Greenberg, jornalista da revista norte-americana Wired, especializada em ciência e tecnologia, dirigia um Jeep Cherokee a 110 km/h pela rodovia Interstate 64, em St. Louis, no estado do Missouri, quando, sem qualquer ação do motorista, o ar-condicionado entrou em funcionamento. No instante seguinte, o rádio sintonizou sozinho e no volume máximo uma emissora não desejada e assim continuou, mesmo com os esforços do condutor para desligá-lo. O limpador de para- -brisa foi o próximo sistema a assumir vontade própria, varrendo o vidro que também recebia o liquido de limpeza sem pedir.

Mas a rebelião do automóvel ainda iria piorar. O corte na transmissão resultou na perda total da função do acelerador, fazendo o carro reduzir velocidade até começar a se arrastar pela pista no momento exato em que um aclive já podia ser tocado pelos pneus, que não mais giravam com força suficiente para enfrentar o obstáculo. Pelo retrovisor, o motorista observava, preocupado, a rápida aproximação de uma carreta de 18 rodas quando, em meio ao caos instalado naquele habitáculo, a imagem de dois personagens surgiu na tela do sistema de entretenimento advertindo: “você está condenado!”. Já prestes a entrar em pânico, Andy Greenberg só conseguiu pegar o celular e, aos gritos, implorar para que a experiência terminasse ali.

As duas figuras exibidas pelo display do sistema multimídia eram os pesquisadores Charlie Miller e Chris Valasek, responsáveis pela experiência absolutamente real descrita aqui. Confortavelmente sentados em um sofá a 16 quilômetros da cena, precisaram apenas de um laptop e uma rede de internet sem fio para invadir o utilitário e assumir o comando dos sistemas veiculares. O sequestro digital, realizado em 2015, foi resultado de uma técnica de hackers em que um softwa Valasek, responsáveis pela experiência absolutamente real descrita aqui. Confortavelmente sentados em um sofá a 16 quilômetros da cena, precisaram apenas de um laptop e uma rede de internet sem fio para invadir o utilitário e assumir o comando dos sistemas veiculares. O sequestro digital, realizado em 2015, foi resultado de uma técnica de hackers em que um software enviou comandos pelo sistema de entretenimento capazes de assumir o controle de funções do painel, direção, freios e transmissão. Neste caso especifico, a consequência foi um recall convocado pela Chrysler envolvendo 1,4 milhão de veículos para fechar as portas a futuros invasores e uma pergunta que ainda permanece no ar: quais são os reais riscos de invasão por hackers dos carros conectados?

Indústrias trabalham para evitar os riscos

O risco de invasão dos sistemas automotivos por hackers foi um dos temas de maior repercussão e interesse no 6º Fórum IQA da Qualidade Automotiva. A experiência dos pesquisadores Charlie Miller e Chris Valasek foi apresentada no evento por Bruno Neri, gerente de Qualidade Corporativa da Robert Bosch. Segundo o executivo, as indústrias de autopeças têm dedicado esforços para que não haja qualquer tipo de vulnerabilidade nos automóveis conectados. “Com os recursos que temos hoje, nós, que produzimos este tipo de componente na indústria, acreditamos fortemente que ataques como este que foi feito pelos pesquisadores em 2015 não serão possíveis. Mas também acredito que tem gente muito capaz e inteligente trabalhando nisso lícita ou ilicitamente. Mais cedo ou mais tarde alguém vai conseguir fazer. Cabe a nós, que trabalhamos com a proteção da segurança dos usuários dos nossos automóveis, manter a indústria atualizada”. Durante sua apresentação no Fórum, Neri exibiu um gráfico em que elétrica e eletrônica aparecem em segundo lugar nas campanhas de recall das montadoras, muito perto do líder, o sistema de air bag. “Muito embora a gente ainda fale em eletrificação e conectividade incipientes, já é praticamente essa a principal fonte de problemas. Existem inúmeras portas de ataque para um automóvel. Se você tem um carro que permite o pareamento do celular, esse veículo em tese está em risco. Para os desenvolvedores, isso representa um desafio imenso, mas com a evolução das tecnologias e dos produtos estaremos preparados para fazer frente aos desafios que virão”, assegura o executivo. Bruno Neri fez questão de deixar claro que não considera os carros conectados uma má ideia. “Eu não quero dar a entender que a conectividade seja algo ruim, pelo contrario, é algo ótimo, queremos isso intensamente. Eu acredito fortemente que nosso futuro está em parte aqui. Então não se trata de reclamar, mas nosso trabalho consiste em preparar os veículos e sistemas para que essa conectividade não traga riscos”.


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