João Pelegrini, um dos grandes empresários do setor automotivo brasileiro, iniciou seus negócios com a Casa do Chevrolet em 1992, empreendimento que impulsionou a criação de outras empresas como a Concessionária Agrale e a Casa da Transmissão.
Pai de três filhas, o empresário conta hoje com a ajuda de duas delas, Fabiana e Luiza, na administração de seus negócios. Além disso, sua esposa, Eliana Pelegrini, é a diretora financeira das empresas da família.
Conversamos com João para saber detalhes da integração e sucessão em sua empresa, projeto em que suas filhas são a parte central.
NV – Como suas filhas estão sendo integradas aos negócios?
JP – Tudo começou comigo no ano de 1992, na Casa do Chevrolet. Dela se originou o atacado, as concessionárias de ônibus e caminhões e o centro automotivo. Conforme minhas filhas foram crescendo e estudando, vi a oportunidade de integrá-las ao negócio, mas, obviamente, dando total liberdade para que trabalhassem onde quisessem. Tanto que, uma de minhas três filhas mora e trabalha em Budapeste, sem vínculo com nossas empresas. Já Fabiana, formada em Engenharia de Produção, trabalhou dois anos em empresas do mercado. Mas, aí sim, preocupado com o futuro do negócio convidei-a para trabalhar conosco e deu muito certo. Começamos a promover a concessionária de caminhões e percebemos seu dom para tocar esse braço da empresa. Com Luiza, minha caçula, formada em Administração de Empresas, o processo é um pouco mais recente. Há um ano e meio ela está tomando conta do pós-venda, que é nossa parte de serviços. Com ambas percebemos que estamos no caminho certo. Sentimos que manteremos o negócio ativo mesmo após a minha aposentadoria, pois percebemos o dom das duas. É importante dizer que estamos conduzindo tudo sem forçar a barra, transferindo gradativamente as responsabilidades, de maneira bastante profissional.
NV – Em tempos em que a administração profissional é fundamental para a sobrevivência das empresas e o termo “varejo familiar” é cunhado muitas vezes de maneira negativa, quais são os desafios de unir família e eficiência empresarial?
JP – Antes de tudo era necessário que todas as minhas filhas adquirissem uma ótima formação educacional – sem grau de instrução apurado, fica muito difícil transferir o conhecimento necessário. O mundo hoje é velocidade e qualidade. E os pais se preocupam naturalmente com a qualificação profissional dos seus filhos, se preocupam de uma maneira verdadeira com a família, com exemplo, convivência e retidão. Isso faz com que você tenha mais tranquilidade na sucessão.
NV – Quando suas filhas começaram a se interessar pelo dia-a-dia de sua empresa? Isso aconteceu de maneira natural ou você precisou dar aquele chamado empurrãozinho inicial?
JP – Aconteceu porque sou muito dedicado e, ao mesmo tempo, muito ligado à minha família. Aconteceu de maneira natural. Essa interação nossa fez com que minha família comprasse a ideia de maneira automática. Uma convivência boa dentro de casa, somada às pessoas percebendo o sucesso do negócio, acabou fazendo com que a integração fosse natural.
JNV – Que tipo de orgulho traz a você a constatação de que a empresa tem o esforço e o suor de sua família?
JP – O que me dá orgulho é que está acontecendo de maneira natural, a gente tem uma conversa, cada dia que passa a gente vai profissionalizando e vai procurando definir a função de cada uma no processo do negócio. Quando você coloca as pessoas certas nas funções certas, a sucessão acontece de uma maneira tranquila. Eu vejo uma transferência de maneira tranquila e gradual, a gente começou cedo, não esperou eu ter 70 anos para dar continuidade ao negócio. Fabiana, por exemplo, já faz parte, inclusive, de órgãos de representação do setor.