Transformação digital e a formação de mão de obra no setor automotivo  -

Transformação digital e a formação de mão de obra no setor automotivo 

Com o avanço da digitalização no setor automotivo, o desafio é capacitar profissionais para atender as demandas de um mercado de trabalho mais especializado, dinâmico e informatizado
Montadoras limitam acesso dos reparaodores automotivos
Crédito: Shutterstock

*Simone de Azevedo é sócia e Diretora Comercial da Mobensani

A aceleração da transformação digital está reconfigurando profundamente todos os setores da economia, principalmente porque o mercado de reposição automotiva brasileiro é singular e gigantesco. Para termos uma ideia desse cenário, até o final do ano, mais de 1,6 trilhões devem ser investidos em digitalização no mundo inteiro, segundo projeção da consultoria Mordor Intelligence.

Dentro desse panorama, a indústria automotiva é uma das que mais sentem os impactos dessa mudança. Da automação veicular, aos carros conectados a múltiplos dispositivos, passando ainda pelas inovações na indústria de reposição e a venda digitalizada de peças e de veículos, a evolução tecnológica está redefinindo o que significa projetar, produzir, vender, dirigir e manter automóveis no Brasil e no mundo. 

Contudo, esse avanço também revela desafios significativos, como a necessidade de investimentos e a escassez de profissionais qualificados para atender às novas demandas da indústria automotiva. 

Fato é que, diante de um cenário dinâmico, a digitalização surge como uma oportunidade para empresas automotivas e de reposição se adaptarem às exigências do mercado e se manterem competitivas – mas esse movimento exige a formação de mão de obra especializada e capaz de potencializar o uso de novas tecnologias na indústria, ao mesmo tempo que a força de trabalho precisa estar preparada para lidar com a crescente complexidade dos veículos. 

Hoje, a demanda por conectividade e soluções tecnológicas avançadas tem transformado a indústria automotiva de forma irreversível. Antes restrita a componentes específicos, a digitalização agora permeia todo o ciclo de vida do produto, desde o design inicial até os processos de produção e manutenção. 

Tecnologias como automação e IoT estão revolucionando a gestão de qualidade nas linhas de montagem, permitindo o monitoramento contínuo e a detecção precoce de falhas. Essas inovações reduzem custos associados a retrabalhos e aumentam a eficiência operacional, mas exigem profissionais com competências específicas, como programação, ciência de dados e engenharia de sistemas. 

Como já mencionado, essa transição não é isenta de obstáculos. Projetos de transformação digital demandam investimentos substanciais e um processo de mudança cultural que não ocorre do dia para a noite. Não por acaso, um importante estudo recente da MIT aponta que a maioria dos processos de digitalização nas empresas falha em virtude de questões envolvendo a cultura do negócio, para mim este é um ponto crucial, onde a direção das empresas devem estar cientes e focadas. 

Nessa jornada, não há dúvidas de que a formação de mão de obra é um dos principais alicerces para o sucesso de um projeto de transformação digital.  

E a boa notícia é que boa parte do mercado brasileiro já está atento a essa necessidade: segundo levantamento do LinkedIn, habilidades analíticas e gerenciamento de projetos, que se colocam como essenciais em empresas mais informatizadas, estão entre as mais buscadas nos negócios do país.   

Pensando no setor automotivo e de reposição, uma dica importante é efetuar esses processos de modo gradual, criando fluxos de treinamento e aprendizagem, ao mesmo tempo em que novas soluções são implementadas no dia a dia do negócio, ou seja, realizar a famosa jornada, que muitas vezes é longa e não traz resultados a curto prazo, mas o mais importante é começar e estar neste “jogo” da digitalização o quanto antes. 

A importância da mão de obra qualificada

Não há dúvidas de que a digitalização crescente do setor automotivo exige que profissionais da área dominem novos campos de conhecimento, incluindo desde linguagens de programação e desenvolvimento de software até a integração de sistemas avançados. 

Nesse contexto, é importante frisar que o desafio de equilibrar as novas demandas da indústria e os processos de qualificação de mão de obra não se trata de algo restrito aos fabricantes, mas também impacta o setor de reposição automotiva. 

Com a maior complexidade dos veículos modernos, a manutenção e substituição de peças agora requerem técnicos especializados, que saibam diagnosticar problemas em sistemas integrados e lidar com ferramentas digitalizadas. 

Os profissionais precisam ainda ter um olhar amplo para as tendências de um setor cujos produtos evoluem e se aprimoram, na medida em que a longevidade dos veículos nas estradas também se estende globalmente. 

Assim, as empresas do setor de reposição precisam adotar uma postura proativa para formar profissionais capazes de acompanhar todas essas mudanças disruptivas, sem abrir mão da oferta de serviços de qualidade e da proximidade com clientes que também demandam por mais inovação nas empresas. 

Ou seja: para transformar esses desafios em oportunidades, não basta simplesmente adotar e desenvolver novas tecnologias, é preciso investir fortemente na formação de talentos. Programas de capacitação técnica, parcerias com instituições de ensino e iniciativas de treinamento interno são estratégias indispensáveis para preparar a força de trabalho para o presente e futuro. 

Esses esforços também devem estar alinhados com as demandas por inclusão social e sustentabilidade, garantindo que o avanço tecnológico beneficie toda a cadeia produtiva e promova o desenvolvimento humano. 

A criação de ambientes de aprendizado contínuo, onde os trabalhadores possam adquirir novas habilidades e atualizar seus conhecimentos, é crucial para preencher a lacuna entre as competências atuais e as necessidades emergentes da indústria. 

Combinando inovação tecnológica, formação profissional e responsabilidade social, é possível não só superar a escassez de mão de obra qualificada, mas também construir uma indústria mais preparada para atender às demandas de uma economia digitalizada, desempenhando um papel central na construção de um futuro mais inclusivo e inovador. 

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