Crise de crédito no horizonte -

Crise de crédito no horizonte

O nível de endividamento das famílias – e também das empresas – brasileiras teve crescimento considerável durante a pandemia. Em paralelo, o Governo adotou medidas que injetaram enorme liquidez na economia, favorecendo o consumo, inclusive no aftermarket automotivo. Mais dinheiro circulando, mais inflação. Para combater a alta nos preços, juros mais altos. E, aí, inadimplência. A conta chegou.

Claudio Milan claudio@novomeio.com.br

Neste mês de março, em ação conjunta, Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Banco Central, Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e os Procons de todo o país realizam mais um Mutirão Nacional de Negociação de Dívidas e Orientação Financeira. Até o próximo dia 31 serão oferecidos descontos e prazos especiais para pagamentos de dívidas no cartão de crédito, cheque especial e demais modalidades de crédito em atraso com bancos ou financeiras. Ao mesmo tempo, o Governo Federal promete para os próximos dias a apresentação da primeira fase do programa Desenrola, uma promessa de campanha do atual presidente para facilitar a negociação das dívidas dos brasileiros com renda de até dois salários-mínimos.

O nível de endividamento das famílias – e também das empresas – brasileiras teve crescimento considerável durante a pandemia. Em paralelo, o Governo adotou medidas que injetaram enorme liquidez na economia, favorecendo o consumo, inclusive no aftermarket automotivo. Mais dinheiro circulando, mais inflação. Para combater a alta nos preços, juros mais altos. E, aí, inadimplência. A conta chegou.

 Todos acompanhamos nas últimas semanas o embate entre o presidente da República e o presidente do Banco Central acerca da elevada taxa básica de juros da nossa economia, atualmente fixada em 13,75% ao ano – há dois anos, em março de 2021, a Selic estava em 2,65%. Por diferentes razões, inclusive políticas, o Governo pressiona pela redução dos juros no país. A somatória de todos esses elementos – e tantos outros que não caberiam neste espaço enxuto – tem como resultante uma incógnita sobre o andamento da economia brasileira nos próximos meses. E tudo que os mercados não querem, sensíveis como são, é a imprevisibilidade. Muitos economistas já dão como certa uma crise de crédito em 2023.

Além da expectativa das instituições financeiras em reaver parte da liquidez injetada nos últimos três anos na economia, surge o caso Americanas com impacto em todo o setor varejista brasileiro. Este é o pano de fundo de nossa reportagem de capa desta edição, complementada pela entrevista que você lê a partir da página 8. É muito importante, neste momento, que os gestores de varejo tenham ciência dos desdobramentos do colapso de uma das maiores redes do Brasil que, diretamente, não tem conexão com nosso mercado automotivo, mas cujos desdobramentos terão consequências não apenas para o comércio como um todo, mas para o próprio sistema financeiro nacional. A partir de agora, a concessão de crédito por parte de bancos e instituições será muito mais cautelosa – até porque o Banco Central também será cobrado a dedicar mais atenção a quem concede crédito sem lastro.

Considerando que os brasileiros têm extrema dependência do crédito para financiar suas compras e até aumentar a renda, mais uma vez os empreendedores serão convidados a superar obstáculos e vencer desafios. A queda no consumo parece pairar sobre nossas cabeças. O momento exige muita atenção e prudência na gestão.


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