Alexis Fonteyne*
Eu tenho como grande meta o ambiente de negócios. Sou empresário, trabalhei muito para as indústrias de autopeças, por isso tenho um sentimento do que acontece dentro de Brasília e no mercado. 2022 vai ser um ano eleitoral e temos um quadro muito polarizado. Com a visão de uma terceira via que ainda não apareceu claramente. Quem será essa terceira via? Teremos uma terceira via? Certamente teremos. E vai ser um ano em que as pesquisas eleitorais vão dar muito o tom do que será o mercado, seja otimismo, pessimismo ou uma terceira via que venha para convencer de fato e tirar essa polarização do Brasil.
O Brasil precisa de paz, o empresário precisa de um ambiente de negócios seguro, que não tenha tanta turbulência, tantas ameaças, seja de governos que nós já tivemos experiências no passado onde houve muitos casos de corrupção, seja de governos que muitas vezes flertam com um certo autoritarismo que não nos interessa também. O que nós precisamos é de um ambiente de negócios conciliador, pacificador, com diálogo e muita democracia. Passamos um período novamente muito difícil, tanto no setor de autopeças, como a indústria automobilística e em vários outros setores, que, em função da pandemia, tiveram uma queda abrupta de vendas.
Depois houve uma interrupção da cadeia de suprimentos e, agora, estamos passando por uma dificuldade muito grande de fornecimento de matérias-primas, linhas de montagem sendo paradas por falta de peças e componentes, demanda reprimida que agora deságua, abre essa demanda e começa a ter um consumo além do normal, só que isso em cadeias globais e o que acaba acontecendo é que nós temos muita dificuldade aqui no Brasil, que normalmente é um mercado que não é exatamente a prioridade do mundo. Principalmente no setor químico, o meu, o mundo é abastecido e o Brasil acaba ficando a mercê desse mercado. Commodities continuam altas, dólar deve permanecer muito alto e isso faz com que haja aquela inflação brasileira, por dois motivos: em dólar e por causa do dólar. Isso dificulta muito, mas o que a gente tem que ter como perspectivas é a melhoria, eventualmente, do crédito. O mercado de automóveis é muito movido a um crédito mais líquido. Eu entendo que em 2022 a agenda do Legislativo deve ser muito mais branda, não deve ter grandes reformas. A reforma administrativa tem que acontecer esse ano, caso contrário dificilmente acontecerá no ano que vem. Reforma tributária, infelizmente, eu entendo que não vai passar, vai ter muita dificuldade porque não há acordo ainda entre estados, municípios e muitos dos setores. Infelizmente o setor industrial é aquele que mais sofre com esse péssimo sistema tributário. E a gente tem que tentar conseguir pressionar para que aconteça de fato uma reforma tributária que dê ao Brasil um sistema padrão mundial, padrão OCDE.
Tudo o que nós queremos é o mesmo padrão tributário das nossas sedes, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália, seja onde for a sede da sua empresa. Isso é algo em que o Brasil precisa avançar demais, mas há muita dificuldade, as discussões são ruins, muitas vezes setoriais – a disputa entre a indústria e o serviço ou mesmo o comércio –, nós temos que pensar como um Brasil grande, um Brasil que não é só de um setor ou outro, que possa crescer de fato. Mas essa reforma tributária não deve acontecer esse ano e com certeza não acontecerá no ano que vem. Eventualmente alguma outra mexida, como, por exemplo, o bloco K que não vai avançar e os estados estão percebendo que é preciso eliminar esse bloco K – no máximo estoque, mas não toda a linha de produção e o que gera e o que não gera insumos, simplificando e cortando o ‘custo Brasil’. Em 2021 eu lancei a frente parlamentar pelo Brasil competitivo, muito baseado num trabalho feito entre associações como Abimaq, Abitêxtil, Abividro, Abiquímica e a Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade, a Sepec, que, junto com o Brasil Competitivo, mapearam o ‘custo Brasil’. E nós estamos trabalhando direto nessa frente parlamentar para impulsionar esses projetos tão importantes para o país e para o nosso setor. A economia precisa ser ativada. Nesse trabalho a gente consegue avançar, no varejo, seja em pequenas questões – nós estamos solicitando agora à Receita Federal que facilite o trabalho de escrituração contábil das nossas empresas e as entregas das obrigações acessórias, isso está avançando – ou coisas macro sobre a reforma tributária, a reforma administrativa e os novos marcos do gás, da eletricidade, do transporte de cabotagem, setor ferroviário, saneamento básico e vários outros em que estamos trabalhando. Existem algumas evoluções, como a Medida Provisória 1040, do ambiente de negócios, simplificando diversas obrigações, ou da liberdade econômica para aquele que está começando a empreender. Especificamente para o setor de autopeças, eu não vejo que haverá um consumo absurdo, não vejo nada que possa indicar que nós vamos ter um grande boom de vendas de automóveis. Acredito que haverá sempre essa oscilação em função da instabilidade política, obviamente a gente pensa em mais longo prazo, mas podemos sofrer num momento ou outro, principalmente com a variação cambial, que nos afeta tão fortemente e de forma tão imediata. Portanto, 2022 vai ser um ano de observação, de tentar fazer com que o Brasil se pacifique, que as polarizações sejam eliminadas, que uma terceira via avance de fato e, assim, a gente consiga tudo que o brasileiro precisa para poder trabalhar: paz e segurança política.
* Alexis Fonteyne é empresário e deputado federal pelo Novo-SP