A Tecfil é um exemplo de empresa nacional ágil, que se adapta rapidamente às novas demandas do mercado. Quem conta é Ricardo Pessoa, diretor Comercial. Em entrevista ao Novo Varejo, o executivo analisa a conjuntura do aftermarket e a evolução das lojas, que, segundo ele, vêm experimentando novos modelos de desenvolvimento.
Novo Varejo – Quais são as últimas inovações trazidas pela Tecfil ao mercado?
Ricardo Pessoa – A necessidade de desenvolver atualizações constantes é algo inerente a todas as empresas. Temos um nível de desenvolvimento de produtos que atende as exigências do mercado, seja através de manufatura interna ou até importação. Também já temos nosso aplicativo para celular, possuímos catálogo em formato de app para consultas sobre aplicação, temos catálogos on e offline, estamos desenvolvendo para 2017 treinamentos ao vivo no site treinamentotecfil.com.br, que também terá vídeos explicativos sobre substituição de filtros.
NV – Como está o mercado de reposição para a Tecfil hoje?
RP – A economia do país está retraída, com níveis de crescimento negativo, o segmento automotivo está nesse contexto, mas ele foi bafejado um pouco por um fenômeno que gerou certo aquecimento: na medida em que a frota de novos sofreu fortíssima retração, dedicou-se mais atenção à manutenção dos veículos, o que gerou um nível de negócios que descolou a reposição desses indicadores gerais da crise instalada. Nós completamos o terceiro trimestre com indicadores positivos de crescimento e a projeção de fechar o ano com expansão de dois dígitos, acima de 10%.
NV – Com que cenário a empresa trabalha para o ano que vem?
RP – Estamos otimistas do ponto de vista macroeconômico, o país saiu de uma situação política muito difícil, entendemos que a tendência aponta para indicadores mais estáveis com perspectiva de melhoria de investimentos. Em relação ao setor, estamos otimistas para 2017, mas entendemos que o processo será lento e gradual. Trabalhamos com a perspectiva de algum aquecimento para o setor, mas balizado pelo crescimento vegetativo da frota. Nossa operação responde de forma muito rápida a surpresas positivas. Por ser uma empresa nacional, de gestão ágil, conseguimos uma adequação à demanda do mercado.
NV – O mercado enfrenta queda de rentabilidade que atinge em especial determinados segmentos. É possível recompor margens na reposição?
RP – Essa é a grande perda que o setor desenvolveu. Dentro da cadeia, existe um elo que hoje tem um problema sério de rentabilidade, que é a distribuição. Na minha visão, essa recomposição de margem passa obrigatoriamente por uma discussão sobre esse segmento, porque de fato lá está a grande perda de riqueza do processo global da operação como um todo. Troca-se, talvez, volume por um resultado de rentabilidade muito baixo, insuficiente para haver geração e reinvestimento no negócio. Obviamente que, com a economia aquecendo e os negócios melhorando, existe uma relação direta com a melhora das margens. Nesse sentido, eu vejo que é possível haver avanços, mas considero isso uma discussão mais profunda, o mercado se deslocou para um nível de resultado, de rentabilidade, que resulta em risco de oxidação de empresas, até situações de insolvência.
NV – Esse quadro resulta de um mercado com muitas empresas em cada elo ou muitos elos na cadeia?
RP – É uma discussão complexa. Eu penso que, em algum momento de nossa atividade, houve um movimento em que se apostou em crescimento via depreciação de preços, a imposição pela competitividade de preço, pela força econômica. E isso trouxe uma fraqueza para as diversas cadeias, principalmente no nível da distribuição.
NV – Você vê o e-commerce como um canal viável para o mercado de autopeças?
RP – A gente vê nos mercados americano e europeu que é um canal irreversível. Obviamente cresce em cima de bases ainda pequenas, mas em alguns países já tem certa expressão. No Brasil há etapas a serem percorridas, o caminho ainda é longo, o mercado brasileiro é embrionário, mas entendo que é uma ferramenta que não pode ser ignorada, ela vai crescer. Essa ferramenta vem também ocupar um espaço que hoje implica em grandes problemas para as empresas, que é a mão de obra comercial, o vendedor típico, o homem de campo. Essa figura está cada vez mais escassa. Conforme o varejo vai se organizando ele começa a olhar para outras ferramentas mais atualizadas, é uma tendência. As próximas gerações de mecânicos também serão muito conectadas, é preciso estar preparado.
NV – Qual sua avaliação sobre o atual estágio do varejo de autopeças?
RP – O segmento de varejo talvez seja aquele que vem experimentando os modelos mais diversificados. Há hoje um movimento muito interessante de junção de operações, o conceito da Rede Âncora, cooperativas, se organizam e se fortalecem do ponto de vista de negociação com os fornecedores. Entendo que esse é um movimento que deve se acentuar cada vez mais. O varejo está conseguindo se estruturar e se organizar. Em paralelo, vemos exemplos como a AutoZone e outras empresas globais chegando com um know how muito interessante, o que acaba obrigando as empresas nacionais a também se aperfeiçoarem. Como em todo processo que o mercado impõe, acaba surgindo um filtro, que seleciona os que entendem essas necessidades de avanço. Esse funil resulta também numa melhor prestação de serviço para o mercado e o consumidor. O varejo precisa se organizar no layout da loja, trazer tecnologias para o negócio, ter um atendimento atencioso e rápido, hoje o consumidor não tolera mais um atendimento ruim, ele é critico e joga tudo na rede social.