Sincopeças-RS se posiciona sobre impactos das enchentes no estado -

Sincopeças-RS se posiciona sobre impactos das enchentes no estado

Maior parte dos associados ao Sincopeças-RS terá de recomeçar do zero em razão da destruição causada pela enchente

A catástrofe do Rio Grande do Sul é, prioritariamente, humanitária, à medida que mais de uma centena de vidas já se perdeu e outras milhares foram impactadas pela destruição de seus lares e patrimônios. Em meio às inúmeras camadas que a crise causada pelas enchentes têm impactado, no entanto, está a economia. Isso porque, além das moradias, diversas lojas e fábricas também foram inundadas – danificando não apenas os imóveis, mas inúmeros equipamentos e produtos que lá estavam. Pesa ainda, em todo este contexto, sobretudo quando falamos no setor automotivo, a enorme supressão da demanda causada pela perda de automóveis e bloqueio de vias.

Para compreender com mais detalhes os efeitos de todo este contexto nas empresas do aftermarket gaúcho, conversamos com exclusividade com personagens que não só acompanham o problema de perto, mas também o tem sentido na pele. Nesta entrevista, trazemos as perspectivas de Marco Antônio Vieira Machado, presidente do Sincopeças-RS, e de Flávio Ramos, proprietário da Ramos & Copini.

Entre os temas abordados, estão as articulações da principal entidade representativa do varejo de autopeças do Rio Grande do Sul junto aos órgãos do Governo para prestar auxílio às empresas do segmento, bem como as expectativas sobre os desafios que permearão a reconstrução do ecossistema de negócios em todo o estado.

Novo Varejo – O Sincopeças-RS consegue mensurar o prejuízo das lojas de autopeças afetadas pela enchente?

Marco Antônio – O Rio Grande do Sul registra sua maior catástrofe climática da história. O estado abrange 497 municípios; destes, quase 450 foram afetados pelas fortes chuvas e enchentes (conforme dados da Defesa Civil do RS até dia 10 de maio), que deixaram um rastro de destruição por onde passaram. Entre os prejudicados, evidentemente, muitas empresas de autopeças, motopeças, revendas de veículos usados, convertedores GNV e lojas de bicicletas, que são representadas pelo Sindicato. A grande maioria terá que recomeçar do zero, devido aos prejuízos físicos das lojas, perda de peças e estoque.

NV – De que maneira o Sincopeças-RS está se articulando para apoiar essas empresas? Existe algum plano do governo estadual para subsidiar os empresários afetados?

MA – O Sincopeças-RS está liderando um movimento nacional junto ao Sincopeças Brasil a partir de campanha para arrecadação de verbas, que serão destinadas para empresas prejudicadas do setor. PIX: CNPJ – 92961523000112, em nome do Sindicato do Comércio de Veículos e de peças e Acessórios para Veículos no Estado do Rio Grande do Sul. Os recursos, em um primeiro momento, serão aplicados para limpeza dos empreendimentos. E depois para a reconstrução. Estaremos juntos ao setor em todas as fases. Convenções Coletivas de Trabalho Emergenciais: A entidade também está fechando Convenções Coletivas de Trabalho emergenciais para auxiliar o setor a manter empregos. Tributos: Juntamente com a Fecomércio-RS, o Sincopeças-RS está trabalhando para a retenção e controle de recursos e postergação do pagamento de tributos. Em contato com deputados federais, senadores e ministros da Fazenda e do Planejamento, foram apresentadas sugestões e demandas para mitigar os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul. Entre as solicitações ao Senado e à Câmara dos Deputados, medidas de iniciativa própria do poder legislativo e outras ações em prol dos gaúchos. Destacam-se a disponibilização de linhas de financiamento extraordinárias para reconstrução e capital de giro, com atenção à capacidade das empresas em prestar garantias reais, a interrupção e a postergação de obrigações tributárias, abrangendo tanto a tributação de bens e serviços quanto sobre a folha de pagamentos (depósitos no FGTS e Contribuição Previdenciária Patronal) e medidas de flexibilização trabalhista, como a possibilidade de aplicação do banco de horas para períodos em que as empresas estejam impedidas de funcionar, de antecipação de férias e auxílio para o pagamento de salários por parte do Governo Federal. Também foi reforçada aos ministros da Fazenda e do Planejamento a demanda de que os pagamentos da dívida do RS com a União possam ser prorrogados, e que os recursos para a reconstrução de infraestrutura pública e para auxílios às famílias e as empresas não enfrentem as limitações usuais de despesas da União, a exemplo do ocorrido com ajudas emergenciais durante a pandemia de Covid-19.

NV – Obviamente, as vidas são mais importantes neste momento agudo da catástrofe. Mas precisamos perguntar: que impactos em médio prazo você acredita que a enchente trará para o aftermarket da região (falta de peças, diminuição de demanda e etc)?

MA – Teremos um árduo trabalho pela frente, de médio e longo prazo, de reconstrução e apoio a centenas de empresas. A luta será para mitigar os problemas subsequentes a esta tragédia climática. Iremos atuar para verificar os anseios e buscar medidas que venham ao encontro da retomada econômica.

NV – Vocês têm números sobre quantas lojas foram impactadas pelas enchentes até aqui?

MA – Não temos como contabilizar o número de lojas afetadas neste momento. O Sincopeças-RS representa 20 mil CNPJs em 490 municípios do estado. Levando em consideração que quase todas as cidades do RS (que somam 497) foram atingidas, pode-se ter uma noção da quantidade de negócios prejudicados.

Novo Varejo – Perguntando agora ao Flávio Ramos, diretor da Ramos e Coppini de Autopeças: como a sua loja (e/ou a de seus colegas) foi impactada pelas enchentes?

Flávio Ramos – Em uma tragédia desta, que é sem precedentes aqui no Rio Grande do Sul, todos terão prejuízos que ainda não são possíveis de serem mensurados. A urgência neste momento é o salvamento e o abrigo das pessoas que foram atingidas de forma violenta pelas águas. Na região metropolitana da capital, onde se concentra a maior população, a grande maioria dos distribuidores e lojas de autopeças estão alagadas ou ilhadas.

NV – Vocês (ou alguns de seus colegas) perderam peças neste processo? Existia/existe algum seguro que pudesse minimizar os danos?

FR – Somente após a baixa das águas, que ainda está sem previsão, será possível uma avaliação da situação. A certeza é que haverá prejuízos e não serão poucos, porque além das peças tem toda a estrutura da empresa que foi alagada. Quanto ao seguro depende da forma que foi contratado para se ter cobertura, mas sabemos que muitos ou não tem essa cobertura ou não tem o seguro.

NV – Como o governo está apoiando os empresários neste processo? Aliás, ele está?

FR – Sem entrar na questão dos salvamentos e dos abrigos que foram na grande maioria feitos por cíveis, verdadeiros heróis, ainda não há nada de concreto quanto a um apoio efetivo dos governos. O que eu fiquei sabendo são ações paliativas e sem grandes reflexos como adiamentos de impostos e obrigações.

NV – Para distribuidores do estado estão distantes dos locais de enchente, caso da Ramos e Copini, houve redução significativa na demanda?

FR – Em uma situação de caos, como está ainda instalado no nosso estado, todos terão perdas. No caso nosso que, graças a Deus, estamos podendo ajudar e não precisando de ajuda com salvamentos e abrigo, teremos inevitavelmente grandes prejuízos indiretos, como, por exemplo, falta de mercadorias, pois os principais meios de transporte e as rodovias estão paradas, redução de venda, aumento da inadimplência, etc. Nos preocupa também os colaboradores e seus familiares que perderam suas casas. O que impacta, e é uma grande tristeza, é um número até agora sem condições de ser calculado de oficinas que foram alagadas e que perderam tudo. Reforço que neste momento os nossos pensamentos são salvar a vida das pessoas, dar um acolhimento de forma digna para aqueles que perderam tudo e, somente depois, faremos a reconstrução das nossas empresas e do nosso estado!


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