Lucas Torres
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Há mais de um ano presente no cotidiano dos brasileiros, a pandemia do novo coronavírus tem deixado um rastro de destruição em cada uma das esferas que compõem o que chamamos de sociedade contemporânea.
Na esfera privada, esse estrago se reflete nas mais de 360 mil vidas perdidas em decorrência da covid-19.
No ambiente econômico-empresarial, os danos provocados pela crise sanitária – e o comportamento de nossas lideranças diante dela – vão desde as quedas consecutivas do PIB, passando pela brusca desvalorização do real e desembocando num cenário de quebra-quebra no varejo, setor como um todo que, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), viu 75 mil lojas fecharem as portas no país desde o início da pandemia.
Existe ainda, é importante lembrar, o impacto no âmbito da cidadania – esfera em que o desemprego tem sido protagonista, alcançando a marca dos 14,1%, índice engordado pelos mais de 25 mil empregos formais ceifados do setor varejista nos últimos 13 meses.
Responsável pela operação semanal das pesquisas MAPA e ONDA – realizadas pelo After.Lab e que entrevistam mensalmente 520 varejistas de autopeças espalhados pelo país – Millena Zago observa essas dificuldades constantemente refletidas nos diálogos que mantém com os empresários do setor. “De uma maneira geral, percebe-se que o mercado como um todo está receoso e retraído por não saber como serão os próximos meses. Ouvimos reclamações semanalmente, principalmente quando perguntamos sobre a falta de produtos ou aumento de preços. Inclusive associam o aumento de preço à época do auge da inflação, na década de 1990”, relata.
Questionada sobre a possibilidade de ter vivenciado casos em que varejistas integrantes da amostra das pesquisas tenham tido de fechar as portas e encerrar as atividades ao longo da pandemia, Millena lamentou. “Sim, percebi que isso aconteceu depois de tirarem o auxílio para as empresas. E aqueles que não fecharam as portas, reduziram o quadro de funcionários”.
Ao se referir ao fim do ‘auxílio das empresas’ como gatilho para o fechamento de varejos de autopeças, a pesquisadora tocou em uma temática que ganhou notoriedade nas últimas semanas – sobretudo a partir da cobrança pública feita pelo Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) que – representando gigantes do varejo nacional como Centauro, Riachuelo e Habib’s – pediu celeridade ao Governo Federal na retomada do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm).
Demora na aprovação do orçamento trava retorno de políticas de auxílio ao empresariado
Ainda em 2020, depois dois meses de um impacto catastrófico da pandemia na atividade econômica – com destaque para a uma queda de 31,8% do setor varejista em abril passado –, o Ministério da Economia arregaçou as mangas para criar uma espécie de pacote emergencial de sobrevivência para empresas e cidadãos brasileiros.
A primeira medida se concretizou com a criação do auxílio emergencial de R$ 600 para uma parcela da população, valor que, além de crucial para a sobrevivência das pessoas, representou uma injeção de capital no mercado de consumo.
No mês seguinte, o Governo Federal criou o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) – ação que oferecia condições especiais para pequenos empreendedores na aquisição de crédito para capital de giro ou quitação de dívidas.
Dois meses depois, em julho, o Governo se voltou a oferecer uma espécie de alívio aos apertados cofres das empresas com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda – na prática, uma parceria público-privada em que o Governo Federal entrava com o subsídio e as empresas com o compromisso de manter os empregos.
A extinção de ambos os programas ao final de 2020 deixou um ‘vácuo de socorro’ ao empresariado nacional em meio à e mais grave onda da pandemia, que atravessamos agora. Diante da gravidade do cenário e, claro, de muita pressão do setor produtivo, o Ministério da Economia encaminhou a retomada dos dois programas, direcionamento travado pela demora na aprovação do orçamento da união para 2021, matéria aprovada pelo Congresso há três semanas, mas que ainda aguarda a sanção presidencial.